O Brasil e as Oportunidades da Economia Verde!

O Brasil e as Oportunidades da Economia Verde!

A realidade imposta pelo aquecimento global tem mexido com o tabuleiro da economia e da geopolítica internacionais. A mudança climática, maior desafio a ser enfrentado pelas atuais gerações, tem exigido uma verdadeira reinvenção de hábitos. Se não mudarmos o modo como agimos e/ou fazemos negócios, estaremos fadados a entregar um Planeta Terra esgotado para nossos netos e bisnetos.

Assim, andar sobre os trilhos da economia verde deixou de ser uma opção e se tornou uma exigência para mitigarmos os impactos climáticos. E estamos correndo contra o relógio.

Aprendemos com a história que as crises, por mais graves e sofridas que sejam, ainda assim trazem aprendizados e oportunidades. E esta nova era, que nos inquieta com preocupações acerca da sociedade do hoje e do amanhã, também é capaz de impulsionar o desenvolvimento por meio da sustentabilidade.

Inspirado nas palavras de Pedro Passos, fundador da Natura, o Brasil, que já desperdiçou grandes oportunidades ao longo das décadas, não pode deixar mais este bonde passar.

Os imensos ativos ambientais que o país possui coloca-nos na posição de potencial protagonista da economia de baixo carbono. É aqui que estão a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do mundo, além de 12% de toda água doce disponível na Terra e uma matriz energética diferenciada. E ainda há espaço para a agricultura nacional avançar sem a necessidade de abrir novas áreas em territórios preservados, tendo em vista os mais de 80 milhões de hectares de terras com algum nível de degradação.

Para aproveitar todo este potencial, temos um grande dever de casa: conter as criminalidades ambientais. É imperativo coibir desmatamento, grilagem de terras, queimadas e demais ilegalidades nos biomas brasileiros, em especial na Amazônia. Este é um passo primordial para mantermos a floresta em pé e começarmos a trabalhar em sinergia com a natureza.

O caminho a ser percorrido já é conhecido. Desde a Rio-92, o Brasil demonstrou êxito na redução do desmatamento. Isso passou pela criação do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, além de investimentos em capacitação de agentes de fiscalização. Os tempos modernos possibilitam, inclusive, fazer da tecnologia de imagens de satélite uma aliada.

A atualidade, aliás, dá a chance de ir além do comando e controle e nos permite sonhar em vencer o triste paradoxo que vive a Amazônia. Uma região de enorme riqueza natural, mas que relega à pobreza boa parte dos 25 milhões de brasileiros e brasileiras que lá vivem. O desenvolvimento sustentável pode ser uma das chaves para começar a mudar esta realidade e impulsionar a melhora de infraestrutura básica como saneamento, serviços de saúde e de telecomunicações, entre outros serviços.

Dentro da própria Amazônia, há modelos que já provam ser possível respeitar o meio ambiente e estimular a economia. O açaí, por exemplo, movimenta cerca de US$ 1 bilhão por ano. A castanha do Pará, também conhecida como castanha do Brasil, e o cacau sustentam diversas comunidades e têm potencial para avançar.

Sob o ponto de vista industrial, vale mencionar a experiência da Natura. Há anos a companhia vem ganhando o mundo por meio de produtos que respeitam a natureza e que possuem origem em estados amazônicos.

Com a aplicação de ciência e tecnologia podemos fazer da região um polo de inovação verde para setores farmacêutico, cosmético, de alimentos, entre diversos outros. As exceções precisam começar a virar regra.

Fora da Amazônia, também identificamos casos exitosos da bioeconomia. O setor de árvores cultivadas se destaca como uma referência mundial no plantio de árvores para fins industriais e uso inteligente da terra. São 9,55 milhões de hectares destinados para plantio produtivo, que dá origem a itens como embalagem de papel, fios têxteis, fraldas, lenços, pisos laminados, painéis de madeira entre outros 5.000 bioprodutos.

Junto a isso, a indústria florestal brasileira conserva mais de 6 milhões de hectares de mata nativa, uma área maior que o Estado do Rio de Janeiro. Em uma moderna técnica de manejo chamada mosaico florestal, intercala área produtiva com conservação, formando verdadeiros corredores ecológicos, que protegem a biodiversidade e auxiliam no cuidado com a água e o solo. Não há nada igual no Brasil.

Nesta nova ordem econômica, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) desponta como mais uma ferramenta sustentável. A precificação do carbono se destaca como uma das peças-chave desta estratégia, mas que ainda tem etapas a serem cumpridas. A COP 27, entre outras missões, poderá concluir a regulamentação do mercado de crédito de carbono global. Em nosso território, cujo potencial é enorme, devemos ir além do decreto 11.075, lançado em maio deste ano. Faz-se necessário um Projeto de Lei para dar segurança jurídica a um mercado nacional regulado. De toda sorte, sem Brasil, não haverá descarbonização planetária.

Todos esses elementos criam um cenário para que o país assuma o protagonismo na questão ambiental. Mas para tornar estas potencialidades em oportunidades, é preciso partir para a ação. Isto não pode ser um movimento deste ou daquele governo, esta é uma agenda fundamental que precisa de um Programa de Estado. Há uma série de compromissos internacionais que precisamos cumprir, como o Acordo das Florestas e Uso de Solo, a redução de emissão de gás metano, a neutralidade de carbono até 2050 e o fim do desmatamento ilegal até 2028.

Num momento tão crucial da História para as atuais e futuras gerações, não podemos falhar, seja em participar ativamente dos enfrentamentos e superações das questões climáticas, seja em aproveitar as oportunidades que a economia verde oferece à constituição de prosperidade inclusiva e sustentável entre nós, com ganhos para os brasileiros e todo o planeta.

Via: https://www.cnnbrasil.com.br/opiniao/o-brasil-e-as-oportunidades-da-economia-verde/